O quarto mandato na Presidência da República trará ao governo e ao PT a necessidade de surpreender o Brasil com propostas capazes de reencantar a sociedade
O quarto mandato na Presidência da República trará ao governo e ao PT a necessidade de surpreender o Brasil com propostas capazes de reencantar a sociedade
Quanto mais o PT se reporta às suas origens de partido de massas, inovador e profundamente democrático, mais se aproxima de sua base e de sua militância. Diante disso o partido terá, entre outras ações, de suprir essas expectativas para continuar atraindo, principalmente, os jovens que se engajaram nessa campanha, assim como os setores ligados aos movimentos sociais e culturais
O processo eleitoral de 2014 ocorreu num ambiente extremamente complexo e cheio de alternativas que começou a se moldar com as manifestações contra o reajuste no preço das passagens do transporte público nas principais capitais e chegou a seu ápice durante a Copa das Confederações. Essa onda de protestos populares mexeu profundamente com a sociedade e a política brasileiras.
Na sequência intensificaram-se os ataques à política econômica, com base na alegação de um suposto descontrole nas contas públicas e do risco da volta da inflação, que se aproximou do teto da meta. E a esses ataques somou-se um bombardeio de denúncias que envolviam o governo, aliados e o PT em casos de corrupção.
Foi nesse contexto difícil que se constituíram os palanques estaduais que deram sustentação à candidatura à reeleição da presidenta Dilma.
O debate a respeito do legado da Copa do Mundo tornou-se um problema político. Apesar de o evento contar com uma organização impecável, visibilidade internacional e de ter se transformado em uma grande festa popular que se espalhou pelo país, a oposição soube criar um cenário que vinculou a construção dos estádios, a organização do Mundial e todo o investimento em estrutura sob suspeição, mesmo sem apresentar uma única denúncia concreta. Estabeleceu-se um ambiente político negativo e pessimista, no qual foi questionada a capacidade do governo de continuar este importante ciclo de desenvolvimento.
Além disso, a intensa oposição exercida pela mídia nesse período merece questionamento e muito debate, reforçando a necessidade da democratização e regulação dos meios de comunicação. Através da adoção de um viés parcial em pautas cuidadosamente selecionadas e municiadas pelo vazamento de informações incompletas de processos que tramitam em segredo na Justiça, a mídia exacerbou o tema da corrupção de forma a imputar ao PT a pecha de partido corrupto.
Essa conjuntura adversa não nos impediu de vencer as eleições. Foi uma vitória suada, mas conquistada com muito comprometimento, debate político e envolvimento de setores importantes da sociedade que não aceitaram outro caminho senão avançar e aprofundar o projeto iniciado em 2002 com a eleição do presidente Lula e posto em prática pelos governos do PT e de uma frente de partidos aliados.
Foi por isso que novos atores se envolveram como nunca na campanha, desafiando o argumento de que não existia mais militância no PT, na esquerda e nos setores progressistas. O fato é que, no final, foi a militância na rua que, com muita intensidade e vibração, garantiu a vitória.
É importante salientar que raras vezes um partido político manteve-se por um período tão longo no poder disputando eleições livres, fiscalizadas e marcadas por intenso debate político.
Contudo, o quarto mandato consecutivo na Presidência da República trará para o governo e para o PT a necessidade de surpreender o Brasil com propostas inovadoras e capazes de reencantar a sociedade. O desafio está posto. O segundo mandato da presidenta Dilma precisará ser ainda melhor que o primeiro.
Isso quer dizer que um olhar para dentro e uma profunda reflexão serão necessários. O PT não pode ignorar os problemas que ocorreram no processo de organização da campanha, principalmente para cuidar das eleições proporcionais e do Senado, e sobraram ações individualizadas e desconectadas.
Mesmo com todas as tentativas de se renovar, o partido envelheceu na forma e nos métodos de fazer política, desviou-se do caminho da ousadia e ficou mais parecido com o comum do que com o novo.
No Parlamento o PT assumiu uma cara muito tradicional, as administrações distanciaram-se do modo petista de governar – tão elogiado e estudado – e o partido se burocratizou internamente, acabou se afastando dos movimentos sociais.
Quanto mais o PT incorpora em sua prática as formas tradicionais de fazer política, mais distante fica de sua base militante e da sociedade. E o contrário também é verdadeiro. Quanto mais se reporta às suas origens de partido de massas, inovador e profundamente democrático, mais se aproxima de sua base e de sua militância.
Diante disso, três tarefas são importantes e precisam ser encaradas pelo partido.
Os delegados eleitos no PED têm agora uma tarefa fundamental no 5º Congresso. O momento exige do PT respostas e também uma reflexão sobre objetivos de longo prazo. Em doze anos o partido realizou uma revolução no país. Fez mais no governo do que qualquer outro que o antecedeu. Mas é da natureza humana querer sempre mais. E o PT terá de suprir essas expectativas para continuar atraindo, principalmente, os jovens que se engajaram nessa campanha, assim como os setores ligados aos movimentos sociais e culturais.
No 4º Congresso alteramos nosso estatuto e estabelecemos, entre outras medidas, que apenas municípios com direções eleitas por meio do voto direto de seus filiados poderão lançar candidatos nas eleições municipais. Também criamos regras mais rígidas para o funcionamento e para a composição de nossas direções, o que ajudou na renovação de nossos quadros. Entretanto, isso também diminuiu o número de diretórios constituídos. Precisamos agora investir na organização de novos diretórios em todos os municípios brasileiros. O Processo de Eleições Diretas Extraordinário, o Pedex, que realizaremos no segundo semestre de 2015, dará corpo ao enfrentamento dos grandes desafios políticos que estão postos, já que será nos novos diretórios que construiremos os espaços de organização e debate dos grandes temas colocados no conjunto da sociedade, absorvendo a nova energia que surgiu nesta campanha.
O partido terá de elaborar uma estratégia nacional, ouvindo as direções estaduais, para criar as condições mais favoráveis para a disputa das eleições municipais de 2016. É no município que as pessoas moram e muitos dos desafios nos dias atuais terão de ser superados ali, sobretudo nos grandes municípios, que acumulam problemas estruturais graves principalmente no combate ao déficit habitacional e na mobilidade urbana.
Florisvaldo Souza é secretário Nacional de Organização do PT