Política

Precisamos avaliar quais são as áreas que acumulam forças e como continuar fazendo lutas e mobilizações sem se isolar das grandes massas

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Como diria Lula, “nunca antes neste país” a esquerda saiu vitoriosa em tantas disputas em uma eleição, nas assembleias estaduais, no Congresso, e a grande vitória política e simbólica de Dilma para a Presidência. A meu ver, a mais importante de todas foi o enfraquecimento dos setores mais reacionários e a derrota do DEM, PPS e PSDB.

Nesta eleição ficou evidente o ódio de classe de setores da burguesia e da direita partidária, que se utilizaram de métodos reacionários, mostrando que a luta de classes se intensificou em torno de elementos ideológicos.

O resultado representa uma vitória dos setores que apostaram na estratégia da “luta” dentro da institucionalidade, das amplas alianças e candidaturas que tinham fortes mandatos ou estiveram à frente de programas sociais.

Essa vitória foi fruto também das lutas da esquerda e dos trabalhadores. Os avanços do governo Lula em diversas áreas, em especial em relação aos salários, aos programas sociais e à geração de empregos, fizeram com que a esquerda conquistasse os votos de grandes camadas pobres. Infelizmente, os setores da esquerda vanguardista tiveram um resultado inexpressivo nas urnas – com a exceção da votação de alguns deputados –, o que demonstra as dificuldades de construir uma frente unitária da esquerda socialista.

Parte dos movimentos manteve-se ausente dessa estratégia de acumular forças das disputas eleitorais, entendendo que é importante fortalecer o processo organizativo dos trabalhadores com independência dos partidos e dos governos.

A luta popular combinada com a disputa institucional deverá ser o debate dos movimentos sociais. Precisamos avaliar quais são as áreas que acumulam forças e como continuar fazendo lutas e mobilizações sem se isolar das grandes massas.

O país nos próximos anos será muito diferente do que tivemos no período neoliberal. Isso tende a abrir espaço para a reorganização dos trabalhadores avançar na defesa das conquistas ou mesmo em lutas por direitos contra o grande capital. Com a possibilidade de crise econômica, setores do grande capital pressionarão por reformas na Previdência e retirada de direitos como “forma de enfrentar a crise”. Diante disso, necessitamos de uma plataforma mínima, que inclua a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o aumento do salário mínimo. Mas essas ações só serão possíveis se os trabalhadores e as centrais sindicais se mobilizarem.

Precisamos contribuir na organização dos beneficiários dos programas sociais, que são mais de 40 milhões de pessoas, cuja grande maioria não pertence a nenhuma organização.

É necessário que os movimentos contribuam na organização dos estudantes do ProUni, tendo em vista que a maioria tem como referência de organização a empresa, o bairro, e não a universidade. Eles serão importantes para ajudar a construir novas bases do movimento sindical e social.

É urgente que a esquerda faça a luta da comunicação, fortalecendo os meios existentes, especialmente na internet. Mas temos de avançar na unidade para a construção de um jornal diário, além de pressionar para que as centrais tenham um canal de televisão.

O governo Lula abandonou a possibilidade de realizar uma reforma agrária maciça, que enfrentasse os latifúndios. As justificativas são várias, entre elas a dificuldade na correlação de forças. É necessário, portanto, pautar a reforma agrária junto à sociedade e continuar ocupando latifúndios improdutivos.

O governo melhorou a vida das famílias assentadas, mas é preciso consolidar uma política de agroindústria, crédito, assistência e vendas dos produtos dos assentamentos. Além disso, organizar a defesa do desenvolvimento popular dos pequenos agricultores e assentados para avançar em termos de conquista econômica.

Outro ponto fundamental é articular as lutas contra empresas do agronegócio, que destroem a biodiversidade com o uso de agrotóxicos e de monoculturas e, em sua grande maioria, aumentam os problemas ambientais. Também é preciso resistir a mudanças do Código Florestal e às propostas da bancada ruralista.

As vitórias do campo popular nos darão tempo para avançar em áreas estruturais, ora em termos econômicos, ora na organização política. O movimento sindical e social não pode fugir da tarefa de ser representante dos trabalhadores junto ao Estado – e não o inverso.

João Paulo Rodrigues, integrante da coordenação nacional do MST