Metalúrgicos ocuparam as fábricas com a intenção de desencadear greves contra o arrocho salarial, um dos principais instrumentos econômicos do regime militar
Metalúrgicos ocuparam as fábricas com a intenção de desencadear greves contra o arrocho salarial, um dos principais instrumentos econômicos do regime militar
O ano de 1968 ficou marcado no imaginário ena história das lutas da esquerda como um período que sacudiu o mundo. Em vários países, estudantes e trabalhadores saíram às ruas com uma radicalidade havia muito ausente do cenário político internacional. O maio de 1968 na França tornou-se o símbolo desse período, no qual a imaginação passou a desafiar o poder estabelecido. Mas 1968 não se resumiu à rebeldia estudantil. Os trabalhadores também desempenharam papel importante, protagonizando greves e protestos que assustaram o patronato. Também é importante destacar que aquele ano teve outra característica peculiar: durou mais do que doze meses. No final da década de 1960, a relativa calmaria do pós-guerra chegara ao fim.
O envolvimento dos Estados Unidos na guerra do Vietnã levou o conflito para o interior da principal potência militar do planeta. E o mundo jamais seria o mesmo. O Brasil não ficaria fora desse processo. O ano de 1968 seria marcado, entre outras coisas, pelo endurecimento da ditadura militar que promulgou o Ato Institucional n° 5 (AI-5) também pelas manifestações de protesto de estudantes e trabalhadores, cada vez mais empurrados para a clandestinidade. As greves operárias de 1968 ainda são um episódio relativamente pouco conhecido no país. Os trabalhadores de Osasco (SP) e Contagem (MG) protagonizaram duas greves que desafiaram a aliança formada então pelo patronato com a ditadura.
Em um trabalho que resgata a memória desse período histórico, Luiz Carlos Galetti situa o contexto internacional em que ele ocorreu1. Greves e manifestações de massa na Europa Ocidental e nos países do Leste europeu (especialmente na Tchecoslováquia); processos de libertação nacional no sudeste asiático (principalmente no Vietnã e na Indochina) e na África; conflitos nos Estados Unidos (movimentos contra a guerra do Vietnã e em defesa dos direitos civis); mobilizações sociais em vários países da América Latina.
É importante lembrar que, alguns anos antes, em 1961, Fidel Castro, Che Guevara e seus combatentes tinham entrado em Havana, dando início à revolução cubana. Em 1968, os Estados Unidos atolavam-se cada vez mais no Vietnã. Os principais países europeus (França, Alemanha, Inglaterra e Itália) enfrentavam sérios problemas econômicos.
No Brasil, o período entre 1964 e 1968 foi marcado pela consolidação da ditadura e pela implementação de uma nova política econômica, com expressivo aporte de capital estrangeiro. Com a derrubada do governo de João Goulart e o sepultamento das propostas de reformas de base, um novo esquema de poder político e econômico passou a dar as cartas. Um dos principais instrumentos econômicos do regime militar foi a política de arrocho salarial. Os vínculos com o grande capital internacional se aprofundaram e o ingresso de multinacionais no país foi facilitado pela repressão aos possíveis movimentos reivindicatórios dos trabalhadores. O movimento sindical foi duramente golpeado e obrigado a se adaptar à “nova ordem”. As organizações políticas de esquerda foram empurradas para a clandestinidade e passaram a debater estratégias de resistência à ditadura.
As raízes do 1968 em Osasco
Segundo um dos protagonistas da greve de Osasco, Roque Aparecido da Silva, é difícil localizar exatamente quando teve início o “1968 osasquense”2. No início da década de 1960, recorda, Osasco viveu grandes mobilizações sociais que culminaram com a conquista da autonomia como município, em 1962. Estudantes, trabalhadores e integrantes de associações de bairros participaram ativamente dessas mobilizações. A organização social construída a partir delas sofrerá um baque em 1964, com o golpe militar que derrubou o governo João Goulart. O Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, criado no ano anterior, sofre intervenção do governo militar, prática que atinge o movimento sindical em todo o país. Ao todo, registra Roque da Silva, 532 organizações sindicais sofreram intervenção e mais de 11 mil dirigentes sindicais tiveram seus mandatos cassados.
Os acontecimentos de 1968 no movimento sindical dão-se, portanto, em um ambiente de repressão e autoritarismo. Além disso, há também uma importante mudança política que deve ser levada em conta. Até 1964, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) eram hegemônicos nos sindicatos brasileiros. O golpe militar intervém diretamente no movimento sindical, desarticulando essa hegemonia. Em Osasco mesmo antes de 1964 havia oposição à direção do sindicato (nas mãos do PCB), liderada por organizações da base da Igreja Católica e por setores do próprio Partido Comunista. Após a intervenção decretada pelo governo militar, esses setores de oposição disputarão com os interventores a direção do sindicato de Osasco. Em 1967, a oposição vence a eleição e passa a dirigir o sindicato.
Esse fato será muito importante para a construção da greve de 1968. Mas não foi o único. O histórico de mobilizações sociais acabou consolidando estreitas relações entre estudantes, trabalhadores e associações de bairro. Essa relação acabou aglutinando-se no chamado “Grupo de Osasco”, que atuava em várias frentes. A partir de 1966, esse grupo avalia que a luta armada era uma condição fundamental para derrubar a ditadura. “Ao mesmo tempo em que estávamos ocupando todos os espaços legais, buscávamos nos articular com as organizações de esquerda que se constituíam na perspectiva da luta armada”, relata Roque da Silva.
O movimento sindical e a ditadura
Essas informações são importantes para entender o caráter peculiar das mobilizações de 1968, em Osasco. Conforme assinala Cibele Saliba Rizek, a greve de Osasco é “exemplo de uma busca de autonomia e independência de classe que a distingue de experiências anteriores e posteriores do movimento sindical pelo fato de seus sujeitos terem construído, dentro do sindicato oficial, um terreno onde teve lugar a atividade autônoma, animada pelos próprios operários, na luta por seus interesses imediatos, bem como futuros e gerais de classe”3. Uma das novidades apresentadas pela greve de 1968 é, acrescenta Rizek, a recriação, “dentro e contra o sindicato oficial”, do sindicato real, em um desafio aberto contra a política de arrocho salarial,contra a lei antigreve e a repressão do regime militar, algo sem precedentes desde o início da ditadura, em 1964.
O período de repressão aberto pela ditadura militar, ao desestruturar o movimento sindical, propiciou, ao mesmo tempo, o surgimento de novas formas de organização, frágeis em seu início, mas portadoras de importantes novidades, como se observaria anos mais tarde. “A desmobilização sindical gerou uma interiorização e molecularização das lutas, compatível com novas formas de organização, entre as quais as comissões ou comitês de empresas, mais ou menos visíveis, mais ou menos legais, de acordo com cada configuração particular”, conforme observa Rizek. As práticas anteriores das organizações sindicais (e também das estudantis), observa ainda a autora, passarão por profundos questionamentos. Nada mais será como antes, e as comissões de fábrica, apesar de seu estreito espaço de manobra, passam a constituir um fórum privilegiado das reivindicações operárias. O único, na verdade.
Essas mudanças ocorrem em um ambiente de intensa repressão. Cibele Rizek ilustra esse quadro: “(...) em 1966, havia por volta de 600 sindicatos sob intervenção. Setenta por cento deles com mais de 5 mil filiados. Ao mesmo tempo que o novo regime suspende os direitos políticos de inúmeros sindicalistas, investe na ‘formação’ de uma nova camada de dirigentes, mais adequados à burocratização e no esvaziamento das entidades posteriores a 1964”. Além disso, o regime militar cria a Comissão Sindical de Colaboração, o Regulamento da Inspeção do Trabalho e a regulamentação que passou a exigir atestados ideológicos dos candidatos às eleições sindicais (medidas estas, todas elas implantadas em 1965). E promulga a lei antigreve, a medida mais restritiva de todas, do ponto de vista da possibilidade de os trabalhadores lutarem por seus direitos.
As comissões de fábrica e os estudantes-operários
Após o golpe militar, os movimentos de trabalhadores e estudantes voltam a dar sinais de vida, em Osasco, nos anos de 1966-1967, assinala Rizek. Uma parcela significativa das lideranças sindicais foi renovada. Uma expressão desse movimento de renovação, destaca, foi a constituição da chapa de oposição à diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos, articulada nas fábricas e vitoriosa nas eleições de 1967. Essa foi a primeira chapa de oposição a ganhar uma eleição sindical depois do golpe de 1964. Neste período, as oposições sindicais ganham força a partir do descontentamento com as velhas direções e com as intervenções nos sindicatos. Outra novidade que será muito importante na deflagração da greve é a constituição das comissões de fábrica. A comissão da Cobrasma (indústria metalúrgica com cerca de 3 mil operários, em 1966) terá um papel decisivo.
No período entre 1966 e 1967, a comissão da Cobrasma centrava-se nas reivindicações salariais, na defesa de melhores condições de trabalho e na denúncia da postura autoritária de chefes e engenheiros. A partir de 1966, relata Rizek, José Ibrahim se torna presidente da comissão e Roque Aparecido da Silva assume a secretaria-geral. Roque também era ligado à entidade estudantil de Osasco (CEO). Assumindo posições importantes na comissão de fábrica e na CEO, o “grupo de Osasco” ou “grupo de esquerda”, como também era conhecido, segue se reunindo clandestinamente com uma pauta mais ampla: o debate político-ideológico da esquerda brasileira e sobre as formas de resistência à ditadura. Contribui para isso a presença de muitos “estudantes-operários”, que também atuavam no movimento estudantil secundarista.
O vínculo estabelecido entre os movimentos estudantil e sindical e a participação direta de estudantes em comissões de fábrica e sindicatos ajuda a fortalecer a dinâmica de retomada das mobilizações, apesar de toda a repressão da época. Rizek exemplifica: “o movimento secundarista, pela própria natureza de sua entidade, promovia um conjunto de atividades que permitiam uma considerável ampliação de seu raio de ação: grupos de teatro, festivais de música, debates etc., levavam Bertolt Brecht, Maximo Gorki e toda uma produção e elaboração cultural crítica a uma parcela nada insignificante de trabalhadores. Criou-se, assim, um novo campo de força no qual a própria condição operária se tornava um eixo de reflexão”. Essa relação entre operários e estudantes fez de Osasco um “laboratório de experimentação” para várias organizações de esquerda clandestinas que atuavam no movimento estudantil e buscavam uma maior inserção no movimento operário.
A greve de 1968
Em 1968, ocorreram as primeiras manifestações operárias de enfrentamento com o regime militar. Essas manifestações acabaram sendo duramente reprimidas e derrotadas em um contexto de endurecimento da ditadura que culminaria com a edição do AI-5 no final daquele ano. A greve de Osasco teve início na Cobrasma. No primeiro semestre de 1968, pequenas paralisações já tinham ocorrido em São Bernardo do Campo, mas o movimento que se iniciou na Cobrasma teve dimensão muito maior. Roque Aparecido da Silva relata, assim, a gênese do protesto: “A greve foi, desde o primeiro momento, organizada a partir dos locais de trabalho. Havíamos constituído onde foi possível de forma legal, por meio de negociação com a direção da empresa, e em outros locais de trabalho de forma clandestina – comissões de fábrica. Eu mesmo, em 1966, fui eleito secretário-geral da comissão de fábrica da Cobrasma, uma indústria metalúrgica com 3 mil operários. Tínhamos comissões de fábrica nas principais empresas metalúrgicas do município quando conquistamos o sindicato em 1967”.
O momento era de crescimento da resistência ao regime militar. “Para se ter uma idéia do momento em que se iniciou a greve”, diz Roque, “exatamente às 9 horas da manhã do dia 16 de julho de 1968, quando se escutou um toque extra da sirene da Cobrasma, que marcava o início da operação de ocupação da fábrica, estava se iniciando uma reunião do Conselho de Segurança Nacional. “Cogitava-se inclusive”, acrescenta, “que seria decretado o estado de sítio, porque os militares entendiam que a revolução armada já estava nas ruas”. O movimento estudantil estava agitado em todo o país. Alguns meses antes, em março, a ditadura havia assassinado o estudante Edson Luís, na repressão de uma manifestação, no Rio de Janeiro.
Ainda no primeiro semestre de 1968, a greve de Contagem e os protestos do dia 1° de maio apontavam para um cenário de radicalização. “A greve de Contagem”, observa Cibele Rizek, “integrou e completou o clima de euforia do período e as ilusões geradas no seu bojo. Para se ter uma idéia, uma das palavras de ordem do Primeiro de Maio em São Paulo era ‘Minas é o exemplo’, conclamando os trabalhadores à greve”. A greve de Contagem, acrescenta, servirá ao mesmo tempo de estímulo e de contraponto à greve de Osasco. Estímulo porque era um exemplo de que era possível enfrentar o regime. E contraponto porque avaliava-se que tinha sido derrotada por seu isolamento político. Uma das principais idéias para romper esse isolamento era desencadear greves contra o arrocho salarial.
Na avaliação de José Ibrahim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e que tinha 22 anos na época, a greve, na verdade, teve início um mês antes do dia 16 de julho, quando um integrante da comissão de fábrica recebeu aviso-prévio. A comissão lutou por seu retorno e ele acabou sendo reintegrado ao trabalho. “Nós tínhamos um acordo com o pessoal da comissão, tinha unidade. De repente os meus companheiros são mandados embora e a gente falando ‘um dia vai ser eu, outro dia vai ser o Zé, vai ser o Cândido (...) Aí começaram aquelas agitações, né, a gente escrevia nas caçambas, escrevia nas paredes: a volta dos nossos companheiros’, fazia dez meses que a gente não recebia aumento salarial e tal. E aquilo ia pegando cada um...”4.
E a greve aconteceu no início da manhã de 16 de julho. O primeiro setor a parar foi o de limpeza e acabamento (uma parte da fundição), considerado o mais combativo da fábrica. Grupos organizados ocuparam os postos-chave da empresa. Em vinte minutos, já estava instalada a primeira assembléia geral, que decidiu pela ocupação da fábrica por tempo indeterminado. Os telefones da empresa ficaram sob controle dos grevistas, a guarda de um portão externo foi dominada, chefes e engenheiros foram presos, e foi montada com vagões uma linha de proteção na periferia da fábrica. De cem em cem metros, operários, armados com barras de ferro, faziam a vigilância. Só ficaram trabalhando os responsáveis pelo refeitório que, com a ajuda de voluntários, preparavam a comida que, naquele dia, foi gratuita. Às 11h15, chegou a notícia de que os trabalhadores da Barreto Keller também estavam paralisados. Os operários saíram, então, em passeata pelas ruas do centro de Osasco.
A reação de patrões e militares
Por volta das 14 horas, os trabalhadores da Lonaflex também cruzaram os braços. Uma hora depois, representantes do Ministério do Trabalho chegam ao sindicato para iniciar negociações. Eles foram informados de que as negociações deveriam ser feitas diretamente com o comando de greve. Um representante do Ministério foi a Cobrasma e acabou sendo vaiado. Nesse período, as direções das empresas atingidas, articuladas com o governo, preparam a reação. Na Lonaflex, organizam um grupo com engenheiros e funcionários administrativos para tentar liberar os portões. Os trabalhadores resistem à investida. Mas no início da noite os profissionais da repressão entraram em campo. A Lonaflex foi cercada por uma tropa de choque, apoiada por cavalaria e carros de combate. Os grevistas aceitaram sair da fábrica com a condição de que ninguém fosse preso. Acabaram saindo em grupos, numa tentativa de proteger os líderes do movimento.
Desocupada a Lona Flex, as tropas dirigiram-se para a Cobrasma. O comando de greve decidiu organizar uma resistência passiva, na entrada da fábrica, para evitar um massacre. O major que comandava a operação ordenou a invasão, e os carros de combate partiram para cima das barricadas. Em reação, os operários desligaram as luzes e seguiu-se um conflito generalizado, com lutas corpo-a-corpo que deixaram vários feridos de ambos os lados. Cerca de sessenta trabalhadores foram presos e soltos dias depois. Com exceção de um deles, José Campos Barreto, um dos principais líderes da greve, que ficou 98 dias preso e foi barbaramente torturado. Barreto acabou morrendo, em 1971, no interior da Bahia, junto com Carlos Lamarca.
No dia seguinte, outras duas fábricas pararam, a Brown Boveri e a Braseixos. Osasco amanheceu sitiada, ocupada por soldados. Uma fábrica madeireira, que não tinha relação com o movimento dos metalúrgicos,adere à greve. Na madrugada do dia seguinte, tropas do Exército invadem o sindicato e prendem oitenta pessoas. A greve chegava ao fim. Isolados nas fábricas, com o sindicato ocupado, os grevistas não conseguiam articular um movimento de resistência na cidade. E ainda enfrentavam a grande mídia que informava o tempo todo que as fábricas estavam funcionando e soltando fumaça pelas chaminés.
A greve é sufocada e, meses mais tarde, o AI-5 mergulharia a vida política do país em um período de trevas. Mas o exemplo de Osasco deitou raízes também profundas. Conforme resume Roque Aparecido da Silva, o que foi vivido em Osasco – uma organização de base, um sindicalismo de massa, uma perspectiva mais democrática para a organização e ação sindical – será retomado mais tarde, em 1978, com as greves do ABC, que inaugurarão uma nova página na política brasileira.
“Eu sabia que tipo de greve seria. Na minha cabeça seria a única greve depois do golpe que balançaria o governo. Eu achava que o confronto seria muito grande. Via o movimento estudantil, via as oposições sindicais e as outras categorias, e dizia: ‘Se a gente sai na frente desse troço, nós vamos paralisar e vai ser muito difícil os outros não virem atrás’. Era uma greve que teria essas características, se confrontar com o governo, se confrontar com os patrões, contra o arrocho salarial.” José Ibrahim, presidente da Comissão de Fábrica da Cobrasma (1966-1967) e do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco (1967, cassado em 1968)
"Eu era primeiro secretário do sindicato. Tinha ido para lá fazia um mês. Também tinha acabado de casar, com o primeiro filho pra nascer. Como a gente tinha livre acesso, eu fui para a seção de limpeza e acabamento que era muito grande, empregava quase seiscentos funcionários. Era onde ia começar a greve. A tensão era muito grande porque uma das decisões que o grupo tinha tomado era de soldar o portão: não entrava e nem saía. Nós íamos fazer.” João Joaquim da Silva, membro da Comissão da Fábrica da Cobrasma e 1o. secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco (1967, cassado em julho de 1968)
“Foram seis anos trabalhando,construindo aquelas bases operárias lá dentro. Mas de maneira assim, pedra por pedra, companheiro por companheiro. Aparecia, trabalhava, trabalhava, até somar com a gente. Companheiros de liderança que saíam de dentro da fábrica – as fábricas estavam demitindo –, nós trouxemos pra dentro, seguramos a barra deles lá, mantivemos pra engrossar a nossa luta. Participei disso praticamente desde o início, desde os primeiros companheiros que apareceram.” Joaquim Miranda Sobrinho, integrante da Frente Nacional do Trabalho e membro do Conselho Fiscal do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco (1967, cassado em julho de 1968)
“A comissão de fábrica foi o que sustentou o movimento depois de 1964. Com a intervenção, o sindicato ficou totalmente esvaziado. Foram as comissões que sustentaram o movimento até 1968. Quando teve a intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos, nós avaliamos que não valia a pena, vamos dizer assim, ter as lideranças na frente do sindicato. Naquele momento, era mais importante ter as lideranças dentro de fábricas. A gente achava que isso era fundamental, como realmente foi.” João Batista Cândido, principal líder operário da Frente Nacional do Trabalho em Osasco, primeiro presidente da Comissão da Fábrica da Cobrasma e secretário-geral doSindicato dos Metalúrgicos de Osasco (1967, cassado em julho de 1968)
"Exatamente às 9 horas da manhã de 16 de julho de 1968, quando se escutou um toque extra da sirene da Cobrasma, que marcava o início da operação de ocupação da fábrica, começava uma reunião do Conselho de Segurança Nacional. Cogitava-se, inclusive, que seria decretado o estado de sítio, porque os militares entendiam que a revolução armada já estava nas ruas.” Roque Aparecido da Silva, vice-presidente do Círculo Estudantil Osasquense (1965-1967) e 2° vice-presidente da União Paulistade Estudantes Secundários (1966-1968); secretário da Comissão de Fábrica da Cobrasma (1966-1967) e representante dos estudantes no gabinete do prefeito municipal (1967-1968)
“Eu estava ajudando junto com as mulheres nessa história. Fazíamos reuniões de preparação da greve. Quando ela era deflagrada,já tinha um mês de preparação, mais ou menos, de preparação de infra-estrutura para os homens que ficariam presos, inclusive. Já havia essa perspectiva de se tomar mesmo a fábrica e ficar lá sem saber direito o que ia acontecer. Então as mulheres tinham que estar preparadas para orientar as outras mulheres dos companheiros, no caso de ter que levar comida, agasalho, cobertor...” Sônia Miranda, esposa de Joaquim Miranda Sobrinho
Marco Aurélio Weissheimer é jornalista